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quarta-feira, 30 de julho de 2014

Guarda o teu coração

   "Sobretudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as saídas da vida" (Pv 4:23).



    A maioria de nós tem o costume de guardar coisas que consideramos importantes: fotos, cartas (quando ainda havia o costume de escrevê-las), presentes, lembranças, etc...coisas que às vezes podem até parecer insignificantes, mas que são significativas para nós. É a nossa tentativa de preservar um momento que já passou, uma pessoa que já se foi, um sentimento vivido em alguma situação. E quando olhamos para esses nossos guardados, de certo modo revivemos as mesmas emoções de outrora. Mas, em meio a tantas coisas que consideramos importante preservar, às vezes esquecemos do essencial: guardar o nosso coração.
    Salomão diz que é a coisa principal a ser guardada, pois é de lá que tudo o mais flui. E quando ele fala de coração não está se referindo ao nosso órgão físico (embora seja de grande utilidade para a vida física cuidar dele), e sim aos nossos sentimentos, às nossas emoções.
    É muito fácil deixar o coração se tornar um depositório de coisas ruins. Ao longo da vida somos feridos, magoados e muitas vezes não podemos evitar isso, mas podemos escolher o que faremos com aquilo que fazem conosco. É por isso que o apóstolo Paulo enfatiza: "Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem" (Rm 12:21)
    Também é muito fácil a gente se ocupar apenas com o que é aparente e se esquecer de cuidar do nosso interior, daquilo que é essencial. Certa vez uns escribas e fariseus chegaram diante de Jesus com um questionamento: "Porque transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? Pois não lavam as mãos quando comem pão" (Mt 15:2). Estavam preocupados apenas com o que estava diante dos olhos, com a aparência das coisas, mas Jesus vai ao fundo da questão e declara: "Ainda não compreendeis que tudo o que entra pela boca desce para o ventre, e é lançado fora? Mas o que sai da boca, procede do coração, e isso contamina o homem. Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias. São estas coisas que contaminam o homem, mas comer sem lavar as mãos isso não contamina o homem (Mt 15:17-20).
    Havia uma preocupação imensa em cumprir as regras e tradições farisaicas que eles mesmos estabeleceram e se esqueciam da essência da Palavra de Deus: "Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças: este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes" (Mc 12:30,31). O coração deles estava cheio, só que das coisa erradas. A prioridade era 'aparentar' santidade e não 'ser' santo.
    Ficar triste, sentir raiva, medo, desgosto, angústia, não é nada fora do normal. Somos humanos dotados de sentimentos, mas podemos aprender a não permitir que esses sentimentos se alojem em nós a ponto de se tornarem parte de quem somos. O psiquiatra e escritor Augusto Cury ensina em seus livros uma técnica muito boa: repudiar os maus pensamentos e sentimentos antes que tenham tempo de se estabelecerem. Quando aceitamos que o mal se instale no coração é muito mais difícil de se livrar dele, pois a tendência é que ele crie raízes. Hb 12:15 fala sobre a raiz de amargura e toda vez que leio esse texto me lembro do quintal da minha avó. Era (e ainda é) tão cheio de árvores e, quando cortava-se alguma, era difícil arrancar a raiz. Elas sempre insistiam em brotar de novo dificultando muito o trabalho de limpar o terreno. No fim a terra ficava 'machucada', revolvida pra que se pudesse vencer a raiz. O ódio, o rancor, a ira, a mágoa, a inveja, a cobiça, a amargura, causam muito mais dor e perdas em quem elas se estabelecem do que no alvo de tais sentimentos. É como a frase de William Shakespeare: "Guardar ressentimento é como tomar veneno esperando que o outro morra".
    Independente do quanto tenhamos sido feridos, através do sangue de Jesus podemos nos livrar de todo fardo e aliviar nosso coração. Levar o coração pra mais próximo de Deus, enchê-lo com a Palavra dEle, deixar o amor de Deus inundar nosso ser e aprender com Ele a controlar nossas emoções através da atuação do Espírito Santo são passos importantes pra alcançar paz e tranquilidade emocional. "Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado" (IJo 2:7).


Paz e até.
  

terça-feira, 29 de julho de 2014

Uma entrega total

   "E, estando ele em Betânia, assentado à mesa em casa de Simão, o leproso, veio uma mulher que trazia um vaso de alabastro, com unguento de nardo puro, de muito preço, e, quebrando o vaso, lho derramou sobre a cabeça" (Mc 14:3).


 Jesus chega à cidade de Betânia e é convidado para um banquete na casa de Simão, o leproso. A Bíblia não nos dá muitos detalhes a respeito de quem era Simão, porém sabemos que nenhum leproso poderia viver normalmente em sociedade (Lv caps. 13 e 14). Talvez Simão estivesse novamente convivendo com sua família por ter recebido uma cura e parece ser isso o mais provável. Todavia não é Simão, o anfitrião do banquete, que nos chama a atenção nesse texto. Quem atrai nosso olhar é uma mulher.
   Ela traz consigo um vaso de alabastro com unguento de nardo puro. Esse tipo de vaso era feito de um material mais delicado do que o mármore em cujo interior se colocava óleos e perfumes valiosos, possuía uma base larga e ia afinando até o gargalo. O gargalo fino servia para impedir que houvesse desperdício do conteúdo do vaso na hora de usar. O nardo era um perfume muito caro (aproximadamente 300 denários. Um denário equivalia a um dia de trabalho de um trabalhador braçal) e muito raro. 
   Ela quebrou o vaso, pois se não o quebrasse, o perfume sairia de gota em gota e ela entendeu que Jesus merecia todo o conteúdo do vaso. Essa atitude de entrega não agradou a algumas pessoas que ali estavam: "E alguns houve que em si mesmos se indignaram, e disseram: Para que se fez este desperdício de unguento?" (Mc 14:4). Mas Jesus recebeu o gesto daquela mulher e declarou: "Em verdade vos digo que, em todas as partes do mundo onde o evangelho for pregado, também o que ela fez será contado para sua memória" (Mc 14:9).
   
   Quatro lições desse texto:

  • 1 - O vaso (coração) precisa ser quebrado para que todo o conteúdo seja derramado em adoração ao Mestre. Sem quebrantamento, a adoração não é plena, inteira, completa."Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus" (Sl 51:17). A entrega precisa ser total, entrega parcial não é entrega.
  • 2 - Nem todos compreenderão nossa atitude de adoração ao Mestre. Muitos pensarão que é um desperdício servir ao Senhor em fidelidade e santidade. Mas como aquela mulher não se importou com os comentários que seu gesto causaria, precisamos romper com qualquer medo das críticas alheias e simplesmente adorar. "Deus é Espírito e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade" (Jo 4:24).
  • 3 - O cheiro do perfume encheu todo o ambiente. Qualquer outro cheiro naquele ambiente foi totalmente suplantado pelo aroma do puro nardo. Quando adoramos a Deus em espírito e em verdade, contagiamos o ambiente ao nosso redor. "Porque para Deus somos o bom cheiro de Cristo" (II Co 2:15).
  • 4 - Jesus recebe uma adoração sincera independente do que os outros pensem a nosso respeito "Jesus, porém, disse: Deixai-a, para que a molestais? Ela fez-me boa obra" (Mc 14:6).

Paz e até.



terça-feira, 8 de julho de 2014

Ser servo não é suficiente?

   "Se alguém me serve, siga-me; e, onde eu estiver, ali estará também o meu servo. E, se alguém me servir, meu Pai o honrará" (Jo 12:26).
   
Ultimamente tenho observado uma tendência no meio evangélico: o estrelismo. Sou do tempo (não que eu tenha tantos anos assim, ainda nem cheguei aos 30, rsrs) em que os cristãos se orgulhavam de serem chamados servos de Deus. Quando alguém dizia "sou servo de Deus", dizia isso com grande alegria. Afinal, pode haver coisa melhor e mais digna do que ser servo do Deus Todo Poderoso? 
   A palavra servo significa aquele que executa tarefas sob as ordens de outra pessoa. O servo de Deus nada mais é do que alguém que obedece às ordens do Altíssimo.
   Mas hoje em dia, para um grupo inserido em nosso meio, isso parece não ser mais suficiente. Eu servo? Só isso? Não mesmo, e dá-lhe um monte de credenciais e posições criadas pra se autopromover. Não quero que pensem que sou contra os ministérios biblicamente estabelecidos. Os verdadeiros ministros do Evangelho, sabem que antes de mais nada são servos de Cristo. E exercem seu ministério com humildade e responsabilidade. Não é disso que estou falando. O caso aqui é outro. Falo daqueles que não servem a Deus, mas a si próprios. Pessoas cujo "deus" é o próprio ego. 
   A mitologia grega tem um mito bastante conhecido: O mito de Narciso. Conta-se que ele era famoso por sua extrema beleza e também por seu orgulho. Narciso era tão belo que pensava ser um deus. E sua autoadmiração foi o motivo de sua ruína, pois ao contemplar seu belo reflexo na lagoa de Eco, sem conseguir deixar de olhar para si mesmo, definhou contemplando sua imagem. E muitos por aí tem ido à ruína por exagerarem demais seus próprios atributos. Não que não tenhamos que ver qualidades em nós mesmos. Fomos criados à imagem e semelhança de Deus, mas temos que ter humildade para reconhecer nossa total dependência do Senhor Jesus. Como Ele mesmo disse: "sem mim nada podeis fazer" (Jo 15:5b).
  Tudo isso faz lembrar da história do rei Uzias. Um homem que muito prosperou em seu reinado por ter confiado no Senhor, mas quando tornou-se grande, deixou o orgulho encher seu coração e achou que já tinha poder suficiente para agir como bem entendesse: "E voou a sua fama até muito longe, porque foi maravilhosamente ajudado até que se tornou forte. Mas, havendo-se já fortificado, exaltou-se o seu coração até se corromper; e transgrediu contra o Senhor, seu Deus, porque entrou no templo do Senhor para queimar incenso no altar do incenso" (II Cr 26:15b, 16). O resultado de sua infração à uma determinação direta de Deus, de que só quem poderia oferecer incenso no altar do incenso era o sumo sacerdote, foi Uzias tornar-se leproso e ter que morar numa casa separada até o dia da sua morte. Cumpriu-se na vida dele o que diz Provérbios de Salomão: "A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda" (Pv 16:18).
   Jesus, ao ser abordado pela mãe dos discípulos Tiago e João com um pedido inusitado de que eles ocupassem lugar de honra em seu reino, esclarece: "Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser, entre vós, fazer-se grande, que seja vosso serviçal; e qualquer que, entre vós, quiser ser o primeiro, que seja vosso servo, bem como o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e para dar a sua vida em resgate de muitos" (Mt 20:26-28). Jesus mostra que o Reino de Deus se contrapõe aos reinos do mundo, pois para ser grande no Reino de Deus é preciso se fazer pequeno, é preciso servir. E o próprio Jesus declara ser ele o exemplo de alguém que SERVE tanto ao Pai quanto aos homens: Pois qual é maior: quem está à mesa ou quem serve? Porventura não é quem está à mesa? Eu, porém, entre vós, sou como aquele que serve" (Lc 22:27).
  Os servos de Deus um dia serão recompensados pelo seu esforço e perseverança em obedecer ao seu Senhor: "Bem aventurados aqueles servos, os quais, quando o Senhor vier, achar vigiando! Em verdade vos digo que se cingirá, e os fará assentar-se à mesa, e, chegando-se, os servirá"(Lc 12:37). Que Deus nos ajude a manter o coração longe do orgulho. Que possamos fazer das palavras de João Batista o nosso lema: "É necessário que Ele (Jesus) cresça e que eu diminua" (Jo 3:30).



Paz e até.
   
   

sábado, 5 de julho de 2014

Aliança

   "Esta é a aliança que farei com eles, depois daqueles dias, diz o Senhor." (Hb10:16a - NVI)


Lembro-me como se fosse hoje, do dia em que meu marido (na época meu namorado) e eu compramos nossa aliança. Íamos ficar noivos e a aliança era algo importante nessa nova etapa. Tão importante que eu dediquei muito tempo pesquisando modelos e preços. E como queríamos uma aliança que fosse durável, que nos acompanhasse por muito tempo, então qualidade era essencial. E fiquei feliz com a escolha que fizemos.
  Hoje toda vez que olho para ela, lembro-me que sou comprometida com alguém. Não consigo olhar para ela sem lembrar que minha vida está intimamente ligada à vida de outra pessoa. Claro que a aliança que carrego no meu dedo é só um símbolo do compromisso que foi firmado dentro do meu coração, mas ela não passa despercebida. Ninguém precisa me perguntar se sou casada, basta olhar para ela. É um sinal de que meu coração já pertence a alguém. Significa que não estou sozinha neste mundo, eu tenho um pacto, um acordo, um concerto em prol de um objetivo comum: formar uma família feliz e alicerçada no Senhor Deus.
   Ao longo da história humana, Deus estabeleceu pactos com o homem. Alguns desses pactos foram violados devido à incapacidade humana de cumprir sua parte: obedecer. A primeira aliança que Deus fez com o homem, ainda no Éden, foi quebrada devido à desobediência a uma ordem direta dada por Deus. Ao longo do tempo, outras alianças foram estabelecidas. Cada uma com o seu papel, mas com caráter provisório até que a Nova Aliança fosse firmada através de Jesus. No pacto realizado no Monte Sinai, a Lei fora escrita em pedras, no Novo Concerto, a Lei é escrita no próprio coração do homem. Não é mais externa e sim interna. Não dependemos mais de alguém que nos ensine como os israelitas dependiam do sumo sacerdote para sacrificarem a Deus e obterem perdão de pecados, temos o Espírito Santo dentro de nós para nos capacitar e ensinar acerca da vontade de Deus e nos levar ao arrependimento e perdão pelos nossos erros.
   Muitos dizem ter feito uma aliança com Deus, mas não entenderam ainda o significado de se ter um pacto com o Criador. Aliança indica relacionamento, comprometimento. É impossível termos uma aliança com Deus e não possuirmos marcas que nos identifique como alguém que pertence ao Todo Poderoso. Num acordo os objetivos se tornam comuns, os ideais de um passam a ser os ideais do outro: "Andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?" (Am 3:3). Se a vontade de um é diferente da vontade do outro, não há acordo, e sem concordância não há aliança. E quando se trata de relacionamento com Deus é a vontade dEle que deve prevalecer sempre: "eis que como o barro nas mãos do oleiro, assim sois vós na minha mão, ó casa de Israel" (Jr 18:6b).
   Para podermos ter aliança com Deus também custou um preço, e muito caro. Tão caro que não poderíamos pagar seu alto valor. Mas podemos gozar de um profundo relacionamento com Deus, pois o preço que não podíamos pagar, foi pago na cruz do calvário através de Jesus Cristo. O sacrifício vicário abriu-nos um novo caminho de acesso ao Pai, pelo qual podemos nos achegar com confiança: "Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no Santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é pela sua carne, e tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé."(Hb 10:19 - 22).
   A verdadeira aliança com Deus não permite que vivamos sem consciência de que somos comprometidos com Deus. Quem tem relacionamento de intimidade com o Pai não vive sua própria vontade, pois sabe que leva sobre si o Nome de Jesus e isso é uma grande responsabilidade. Nossas atitudes mostram a quem servimos e com quem somos comprometidos. Em qualquer hora ou lugar, não importa onde estejamos ou o que fazemos, devemos agir de acordo com este compromisso: "Vivei, acima de tudo, por modo digno do Evangelho de Cristo, para que, ou indo ver-vos ou estando ausente, ouça, no tocante a vós outros, que estais firmes em um só espírito, como uma só alma, lutando juntos por uma fé evangélica" (Fp 1:27). Minha aliança com Deus me diz constantemente que não posso viver como se não tivesse um dono e um Senhor que me comprou com seu precioso sangue, e que é preciso viver de um modo digno desse compromisso.
                                             
                                                 Paz e até.