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terça-feira, 5 de dezembro de 2017

O desejo por mais de Deus

 
O capítulo 33 de Êxodo começa com Deus dizendo a Moisés que não iria no meio do povo, antes enviaria um anjo:"Disse mais o Senhor a Moisés: Vai, sobe daqui, tu e o povo que fizeste subir da terra do Egito, à terra que jurei a Abraão, a Isaque, e a Jacó dizendo: À tua semente a dareis. E enviarei um anjo diante de ti, e (lançarei fora os cananeus, e os amorreus, e os heteus, e os perizeus, e os heveus, e os jebuseus)" (Êx 33:1,2) . Isso aconteceu logo após o povo ter erigido um bezerro de ouro enquanto Moisés estava no Monte Sinai recebendo a Lei. Cansados de esperar pelo retorno de Moisés, erigiram um ídolo que substituísse o Deus de Israel.
   É interessante notar que o texto deixa claro que Moisés gozava de muita intimidade com Deus: "E falava o Senhor a Moisés cara a cara, como qualquer fala com o seu amigo" (Êx 33:11b). Mas mesmo gozando de tamanha intimidade, Moisés não abre mão da presença de Deus no meio do povo. Ele usa alguns argumentos que se encontram nos versículos 12 e 13 do capítulo 33: "E Moisés disse ao Senhor: Eis que tu me dizes: Faze subir a este povo; porém não me fazes saber a quem hás de enviar comigo; e tu disseste; Conheço-te por nome, também achaste graça aos meus olhos. Agora pois, se tenho achado graça aos teus olhos, rogo-te que agora me faças saber o teu caminho, e conhecer-te-ei, para que ache graça aos teus olhos e atenta que esta nação é teu povo".
  • O Senhor me mandou liderar o povo (Êx 33:12);
  • O Senhor disse que me conhece por nome (Êx 33:12);
  • O Senhor disse que achei graça aos teus olhos (Êx 33:12);
  • Logo, se achei graça aos teus olhos quero saber o teu caminho (saber a tua vontade) e conhecer-te-ei (Êx 33:13);
  • Atenta que o povo que estou liderando é teu (Êx 33:13).
   No versículo 14, Deus responde a Moisés dizendo que irá com ele: "Disse pois: irá a minha presença contigo para te fazer descansar" (Êx 33:14). Mas Moisés queria mais, ele queria a presença de Deus não apenas para si mesmo, mas também no meio do povo. Ele continua clamando e intercedendo pela presença de Deus no meio do povo: "Então disse-lhe: Se a tua presença não for conosco, não nos faça subir daqui. Como pois se saberá agora que tenho achado graça aos teus olhos, eu e o teu povo? Acaso não é por andares tu conosco e separados seremos, eu e o teu povo, de todo o povo que há sobre a face da terra?" (Êx 33:15,16). Deus então promete que irá com o povo: "Então disse o Senhor a Moisés: Farei também isto, que tens dito; porquanto achaste graça aos meus olhos, e te conheço por nome" (Êx 33:17).
   Moisés já havia obtido a promessa da presença de Deus com ele e com o povo, mas, mesmo assim, ele não se contenta. Ele roga a deus que lhe mostre a sua glória:"Então ele disse: Rogo-te que me mostres a tua glória" (Êx 33:18). Havia em Moisés um desejo sempre crescente por mais de Deus, uma espiritualidade sempre crescente. O relacionamento com Deus não é algo estático, parado, pode sempre crescer mais em intimidade, comunhão, amor. Moisés queria sempre mais de Deus.
   O pedido de Moisés para que Deus lhe mostre a sua glória foi atendido por Deus: "Porém ele disse: Eu farei passar toda a minha bondade por diante de ti, e apregoarei o nome do Senhor diante de ti; e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia. e me compadecerei de quem me compadecer." (Êx 33:19). Deus saciou o desejo de Moisés por mais dele. Deus está pronto a saciar o nosso desejo por mais dele, pois esse é o fim principal do homem: glorificar a Deus e gozá-lo para sempre (Breve Catecismo de Westminster - Pergunta 1 - ref: Rm 11:36; I Co 10:31; Sl 73:25-26; Is 43:7; Rm 14:7,8; Ef 1:5-6; Is 60:21; 61:3).
   Quando Moisés novamente sobe ao Monte Sinai por ordem do Senhor para receber as novas tábuas contendo os dez mandamentos, ao descer a pele do seu rosto resplandecia: "Quando desceu Moisés do monte Sinai, tendo nas mãos as duas tábuas do Testemunho, sim, quando desceu do monte, não sabia Moisés que a pele do seu rosto resplandecia, depois de haver Deus falado com ele" (Êx 34:29). Moisés vivia uma espiritualidade sempre crescente, sempre indo mais profundo no relacionamento com Deus. A sua relação com Deus emanava pelo reflexo da glória de Deus em sua face. E é maravilhoso saber que em Jesus podemos gozar de glória ainda maior: "E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de glória, a ponto de os filhos de Israel não poderem fitar a face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, ainda que desvanecente, como não será de maior glória o ministério do Espírito!" (II Co 3:7,8). 
   Podemos gozar sempre mais e mais da poderosa presença de Deus nas nossas vidas, podemos viver uma espiritualidade crescente (embora isso não signifique isenção de momentos de fraqueza ou abatimento), podemos gozar de uma glória que não é desvanecente, pois estamos vivendo o "estágio final do plano de Deus para os tempos: a era da nova aliança" (Bíblia Genebra).
   Que o Deus que opera tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade (Fp 2:13), nos leve a desejar ardentemente cada vez mais dele!

Paz e até.

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Arrependei-vos!

   Em vez de perguntar se alguém quer "aceitar" Jesus, o Evangelho chama o homem ao arrependimento. João Batista, aquele acerca de quem Isaías profetizara que prepararia o caminho para o Salvador, clamava no deserto convocando ao arrependimento: "Arrependei-vos porque é chegado o reino dos céus" (Mt 3:2). Sua mensagem atraía pessoas de Jerusalém, Judeia e província adjacente ao Jordão. Confessando seus pecados, eram por ele batizadas no rio Jordão: "Então saíam a ter com ele Jerusalém, toda a Judeia e toda a circunvizinhança do Jordão; e eram por ele batizados no rio Jordão, confessando os seus pecados" (Mt 3:5,6).
   De acordo com João Calvino: "Se alguém busca na Palavra de Deus uma diferença entre o batismo de um e o de outro (de João e de Cristo), a única diferença que encontrará é que João batizava em nome de alguém que viria, e os apóstolos, em nome de alguém que já veio".
   Jesus deixou claro, ao ser questionado por comer com publicanos e pecadores, que veio chamar pecadores ao arrependimento:
"Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero e não holocaustos; pois não vim chamar justos, e sim pecadores [ao arrependimento]" (Mt 9:13).
   Pedro, após a descida do Espírito Santo no Pentecostes, levantou-se com ousadia e anunciou a mensagem de salvação aos presentes. O discurso compungiu o coração das pessoas, levando-as a perguntarem o que deveriam fazer. A resposta de Pedro deixou clara a necessidade de arrependimento:
"Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados" (At 2:37,38). Os que receberam a palavra foram batizados, havendo um acréscimo de quase 3.000 pessoas: "Então os que aceitaram a palavra foram batizados, havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas" (At 2:41).
   O batismo é a admissão pública na igreja visível, um sinal e selo do ingresso no Reino de Deus. Naquele dia, a mensagem do evangelho levou quase 3.000 pessoas a serem batizadas e incluídas como membros da igreja visível.
   Era com o brado em alta voz que os apóstolos convocavam os homens: ARREPENDEI-VOS!
   Esse deve ser o brado da igreja!

Paz e até!

quarta-feira, 10 de maio de 2017

A libertação de um homem

"E navegaram para a terra dos gadarenos, que está defronte da Galileia. E, quando desceu para terra, saiu-lhe ao encontro, vindo da cidade, um homem que desde muito tempo estava possesso de demônios, e não andava vestido, nem habitava em qualquer casa, mas nos sepulcros.
E, quando viu a Jesus, prostrou-se diante dele, exclamando, e dizendo com grande voz: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Peço-te que não me atormentes.
Porque tinha ordenado ao espírito imundo que saísse daquele homem; pois já havia muito tempo que o arrebatava. E guardavam-no preso com grilhões e cadeias; mas, quebrando as prisões, era impelido pelo demônio para os desertos" (Lc 8: 26-29).


  A Bíblia diz que num certo dia, Jesus e seus discípulos entraram num barco para atravessar o Mar da Galileia, que na verdade é um lago, também chamado de Mar de Tiberíades ou Lago de Genesaré. No meio do caminho eles se depararam com uma forte tempestade: "E, navegando eles, adormeceu; e sobreveio uma tempestade de vento no lago, e enchiam-se d'água, estando em perigo" (Lc 8:24). Enquanto essa tempestade ocorria, Jesus estava dormindo tranquilamente, os discípulos acordaram-no e ele repreendeu o vento e a fúria do mar: "E, chegando-se a ele, o despertaram dizendo: Mestre, Mestre, perecemos. E ele, levantando-se, repreendeu o vento e a fúria da água; e cessaram, e fez-se bonança"(Lc 8:25).
   Ao chegar em terra firme, na região de Gadara, a Bíblia afirma que um endemoninhado saiu ao encontro de Jesus. A história que passa a ser contada a partir dessa chegada de Jesus em Gadara,é uma história maravilhosa de libertação e de demonstração do poder e autoridade de Jesus.
   O texto relata algumas características acerca da situação enfrentada por aquele homem:

  • Estava possesso já há muito tempo (Lc 8:27);
  • Era feroz ao ponto de ninguém poder passar pelo caminho (Mt 8:28);
  • Sua agressividade levou as pessoas a prendê-lo com grilhões (Mc 5:4), mas mesmo assim não conseguiam amansá-lo ou contê-lo (Mc 5:4b)
  • Andava pelos sepulcros dia e noite clamando e ferindo-se com pedras (Mc 5:5).
  Essa passagem sempre mexe profundamente comigo, pois este homem representa o retrato do que Satanás deseja fazer com a vida das pessoas. Uma vida de sofrimento, solidão, dor...Devido à situação que ele enfrentava a sua vida ficou prejudicada em todos os aspectos:

  • Convívio familiar e convívio social totalmente inexistente: "Não habitava em qualquer casa, mas nos sepulcros" (Lc 8:26);
  • Foi levado a lugares de solidão e morte: sepulcros e deserto;
  • Além da prisão física houve a tentativa de resolver o problema com correntes e grilhões físicos;
  • Perda dos valores morais, normas estabelecidas para o convívio social: "Não andava vestido" (Lc 8:27);
  • Perda da personalidade. Seus padrões de pensar, sentir e agir, a individualidade pessoal que nos faz ser quem somos, foi totalmente prejudicada:
  • Feria-se a si mesmo (Mc 5:5). Satanás fez com que perdesse o amor por si mesmo e seu senso de autopreservação;
  • Sem paz, andava clamando nos montes e sepulcros (Mc 5:5).
   A vida daquele homem estava em completa ruína, não havia nada que as pessoas daquela localidade pudessem fazer por ele. O máximo que chegaram a conseguir foi aprisioná-lo com correntes e grilhões, mas apenas temporariamente, pois nem mesmo isso era capaz de detê-lo. 
   Gadara era uma das dez cidades autônomas da região de Decápolis. Era um centro comercial habitado por não judeus que viam na criação e comercialização de porcos uma fonte de renda. Isso fazia com que fossem totalmente rejeitados pelos judeus, pois o porco era um animal imundo de acordo com a Lei mosaica.
   Quando Jesus pisou na terra de Gadara, o endemoninhado saiu ao seu encontro clamando com grande voz: "Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Peço-te que não me atormentes " (Lc 8:28b). Até aquele momento os demônios tinham feito o que queriam na vida daquele homem, mas chegara aquele que veio pra desfazer as obras do diabo (I Jo 3:8). Jesus havia atravessado o Mar da Galileia, repreendido a tempestade para chegar num lugar onde nenhum judeu queria ir para libertar um homem, uma vida.
   Não havia naquele lugar nada e nem ninguém que fizessem oposição à atuação demoníaca, eles estavam completamente à vontade para atuar, mas com a chegada de Jesus o negócio é diferente. Os demônios sentiram que havia um oponente ao qual não poderiam resistir e imploraram pra que Jesus permitisse que entrassem nos porcos.
  A permissão que Jesus lhes deu de entrarem na manada de 2000 porcos, vai demonstrar algumas coisas para a população local:

  • O poder destruidor dos demônios que habitavam aquele homem;
  • O grau de sofrimento que ele estava suportando por um longo período de tempo;
  • Que Jesus tem autoridade pra dar ordens aos demônios, o poder deles está limitado à permissão de Jesus;
  • Com a destruição da manada de porcos, havia uma escolha a ser feita: crer em Jesus e recebê-lo ou preferir os porcos e se lamentar com o prejuízo financeiro.
   Jesus trouxe restauração à vida daquele homem em todos os aspectos:

  • Espiritualmente;
  • Fisicamente;
  • Restauração dos seus valores morais: "totalmente vestido" (Lc 8:35);
  • Restauração da saúde emocional: "Perfeito juízo" (Lc 8:35);
  • Restauração do convívio familiar e social: "Torna para tua casa!" (Lc 8:39);
  • Estabelecimento de uma missão: "Conta quão grandes coisas te fez Deus" (Lc 8:39).
   As pessoas, mesmo depois de vê-lo completamente vestido, lúcido e assentado aos pés de Jesus, decidiram optar por pedir a Jesus que saísse de sua cidade. Isso é bem triste, pois nos mostra que existem pessoas que deliberadamente escolhem os 'porcos'. Para esses as coisas dessa vida são mais interessantes do que as coisas relacionadas ao mundo espiritual.
  Após a sua libertação, o homem pediu a Jesus para segui-lo e recebeu de Jesus a seguinte resposta: "Torna para tua casa, e conta quão grandes coisas Deus te fez. E ele foi apregoando por toda a cidade quão grandes coisas Jesus lhe tinha feito" (Lc 8:39). É maravilhoso imaginar a volta dele para casa, o reencontro com a família, com os amigos, depois de tanto tempo. A própria vida daquele homem se tornou um testemunho grandioso do poder de Jesus. 
   Essa história nos leva a entender que Jesus tem todo o poder e autoridade sobre todas as coisas e que não há nada que possa impedir os seus propósitos  É uma história linda de libertação, do resgate de alguém que estava aprisionado pelas correntes de Satanás. Sem Jesus ele estaria fadado a uma vida miserável, mas Ele foi lá em Gadara por aquela alma. Atravessou o lago pra salvar aquela vida. 
   Essa história mostra o quanto o encontro com o Mestre é libertador e criador de novos rumos. No início o homem não tinha perspectiva de nada, estava morto, mas quando encontrou-se com Jesus tornou-se um anunciador das boas novas.  Jesus quebra toda e qualquer corrente que nos aprisiona, ele nos liberta e dá sentido à nossa vida. Quando Deus nos encontrou e nos transformou foi para que fossemos e anunciássemos aos outros quão grandes coisas ele fez por nós.


Paz e até.