A maioria de nós tem o costume de guardar coisas que consideramos importantes: fotos, cartas (quando ainda havia o costume de escrevê-las), presentes, lembranças, etc...coisas que às vezes podem até parecer insignificantes, mas que são significativas para nós. É a nossa tentativa de preservar um momento que já passou, uma pessoa que já se foi, um sentimento vivido em alguma situação. E quando olhamos para esses nossos guardados, de certo modo revivemos as mesmas emoções de outrora. Mas, em meio a tantas coisas que consideramos importante preservar, às vezes esquecemos do essencial: guardar o nosso coração.
Salomão diz que é a coisa principal a ser guardada, pois é de lá que tudo o mais flui. E quando ele fala de coração não está se referindo ao nosso órgão físico (embora seja de grande utilidade para a vida física cuidar dele), e sim aos nossos sentimentos, às nossas emoções.
É muito fácil deixar o coração se tornar um depositório de coisas ruins. Ao longo da vida somos feridos, magoados e muitas vezes não podemos evitar isso, mas podemos escolher o que faremos com aquilo que fazem conosco. É por isso que o apóstolo Paulo enfatiza: "Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem" (Rm 12:21).
Também é muito fácil a gente se ocupar apenas com o que é aparente e se esquecer de cuidar do nosso interior, daquilo que é essencial. Certa vez uns escribas e fariseus chegaram diante de Jesus com um questionamento: "Porque transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? Pois não lavam as mãos quando comem pão" (Mt 15:2). Estavam preocupados apenas com o que estava diante dos olhos, com a aparência das coisas, mas Jesus vai ao fundo da questão e declara: "Ainda não compreendeis que tudo o que entra pela boca desce para o ventre, e é lançado fora? Mas o que sai da boca, procede do coração, e isso contamina o homem. Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias. São estas coisas que contaminam o homem, mas comer sem lavar as mãos isso não contamina o homem (Mt 15:17-20).
Havia uma preocupação imensa em cumprir as regras e tradições farisaicas que eles mesmos estabeleceram e se esqueciam da essência da Palavra de Deus: "Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças: este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes" (Mc 12:30,31). O coração deles estava cheio, só que das coisa erradas. A prioridade era 'aparentar' santidade e não 'ser' santo.
Ficar triste, sentir raiva, medo, desgosto, angústia, não é nada fora do normal. Somos humanos dotados de sentimentos, mas podemos aprender a não permitir que esses sentimentos se alojem em nós a ponto de se tornarem parte de quem somos. O psiquiatra e escritor Augusto Cury ensina em seus livros uma técnica muito boa: repudiar os maus pensamentos e sentimentos antes que tenham tempo de se estabelecerem. Quando aceitamos que o mal se instale no coração é muito mais difícil de se livrar dele, pois a tendência é que ele crie raízes. Hb 12:15 fala sobre a raiz de amargura e toda vez que leio esse texto me lembro do quintal da minha avó. Era (e ainda é) tão cheio de árvores e, quando cortava-se alguma, era difícil arrancar a raiz. Elas sempre insistiam em brotar de novo dificultando muito o trabalho de limpar o terreno. No fim a terra ficava 'machucada', revolvida pra que se pudesse vencer a raiz. O ódio, o rancor, a ira, a mágoa, a inveja, a cobiça, a amargura, causam muito mais dor e perdas em quem elas se estabelecem do que no alvo de tais sentimentos. É como a frase de William Shakespeare: "Guardar ressentimento é como tomar veneno esperando que o outro morra".
Independente do quanto tenhamos sido feridos, através do sangue de Jesus podemos nos livrar de todo fardo e aliviar nosso coração. Levar o coração pra mais próximo de Deus, enchê-lo com a Palavra dEle, deixar o amor de Deus inundar nosso ser e aprender com Ele a controlar nossas emoções através da atuação do Espírito Santo são passos importantes pra alcançar paz e tranquilidade emocional. "Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado" (IJo 2:7).
Paz e até.